"É estranho o manto de silêncio, o tabu, sobre a provável e principal razão
que envolve o interesse súbito de «todo o mundo» sobre o Banco Comercial
Português: a possível transferência para a Segurança Social do fundo de
pensões dos colaboradores do Banco avaliado em cerca de quatro mil milhões
de euros.
Esta transferência, a concretizar-se, será contabilizada como receita
extraordinária da Segurança Social neste ano 2008 e controlará o défice do
Estado satisfatoriamente. Esta solução que estará na mira do Governo
Sócrates (sem dúvidas), já foi testada pelo Governo de Guterres (com a
transferência do fundo de pensões do BNU, realizado pelo ex-ministro Sousa
Franco) e pelo Governo de Santana Lopes, para controlar o défice e cumprir
os valores limite fixados pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento .
Assim, no ano de 2004, o ex-ministro das Finanças Bagão Félix transferiu
fundos de pensões de empresas públicas (entre outros, o Fundo da Caixa Geral
de
Depósitos) para a Caixa Geral de Aposentações, conseguindo um encaixe
financeiro de cerca de 1,9 mil milhões de euros (segundo foi noticiado).
Estamos, na verdade, no cerne das negociações das cadeiras na Administração
do BCP! Isto é, poderá o PS garantir um perfeito e tranquilo sucesso
orçamental no Ano 2008, com uma total concordância do maior partido da
oposição (?), tendo em vista o ano de eleições de 2009? Mas, é bom recordar
e não esquecer (PS e PSD) o parecer do Tribunal de Contas sobre este tipo de
operações: «O impacto directo sobre as finanças públicas, que se projectará
por um período longo, resultante das transferências referidas, tem um efeito
positivo sobre as receitas do Estado no ano em que ocorreram, mas têm um
efeito inverso nos anos posteriores, uma vez que as receitas não serão
suficientes para suportar o valor das despesas».
Neste cenário, bem descrito pelo Tribunal de Contas, afirmamos que não se
augura nada de bom para os reformados e trabalhadores no activo com a
transferência do Fundo de Pensões para o Estado . Denunciamos a apatia e a
ingenuidade dos Sindicatos e da Comissão de Trabalhadores do BCP em não
verem e não perceberem o fundo real da situação. Ou, será que querem ver e
perceber? Porque será que não defendem os legítimos interesses dos
trabalhadores com absoluta firmeza e determinação?
O Accionista mediático do BCP, Joe Berardo, o homem que «Sabe Tudo», que no
seu apostolado de criticas e denúncias emite opiniões diversas, ainda não se
pronunciou sobre esta matéria? Ou, será que sabe e não quer dizer? Ou, sabe
mesmo da medida desejada pelo Governo de Sócrates?
O Senhor Joe Berardo não é seguramente um «capitalista do povo», como quer
fazer passar na imagem que vende . Pelo contrário, Berardo defende
unicamente o seu dinheiro, os seus investimentos e o Fundo de Pensões
representa uma responsabilidade para o Banco que quer ver eliminada, ou
antes, transferida para o Estado.
Finalmente, independentemente dos respeitáveis nomes que são apontados como
candidatos às cadeiras do Conselho de Administração Executivo do BCP , os
accionistas, os clientes, os colaboradores do Banco, gostavam de saber da
voz dos Candidatos a Presidente, nos próximos dias que antecedem a
Assembleia Geral, quais são os modelos e as orientações que pretendem
imprimir na organização, se vão seguir a política das fusões, se vão
continuar o Programa em marcha "Millennium 2010", etc. Ou seja, Os
Curriculum Vitae de Santos Ferreira e Miguel Cadilhe são inquestionáveis,
mas urge sentir e reflectir as linhas orientadoras de liderança que
sustentam as suas candidaturas.
Até agora vivemos no campo vago da dança dos nomes. Historicamente, o Banco
Comercial Português sempre nos habituou à excelência na liderança e à
clareza sólida dos objectivos a atingir. Por esta via, se atingiu o patamar
de importância que o BCP hoje ocupa no sistema financeiro português."
DELFIM SOUSA
Accionista, Ex-Quadro do BCP, Ex-Sindicalista, Ex-Membro da Comissão de
Trabalhadores do BCP
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